quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Expectativa & Esperança

 

“Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação que há na Sua presença.” (Salmos 42:5). 

Quando nos deparamos com o desânimo, com a tristeza, com o medo – com os sintomas da depressão – é natural que surja a questão “por quê?”. Queremos entender as causas, queremos saber de onde veio. E, sim, o porquê é necessário para iniciar o processo de cura. 

É sempre importante ressaltar que a depressão é uma doença multicausal, ou seja, ela pode surgir por vários motivos diferentes. E é importante porque não devemos ser como os amigos que Jó, cuja única explicação que conseguiram pensar para o problema foi: “É pecado!”. 

“Não deste ao cansado água a beber, e ao faminto retiveste o pão. Despediste vazias as viúvas, e os braços dos órfãos foram quebrados. Por isso é que estás cercado de laços, e te perturba um pavor repentino, ou trevas de modo que nada podes ver, e a inundação de águas te cobre.” (Jó 22: 7, 9-11). 

É possível que a depressão seja um sintoma de alcoolismo ou demência, por exemplo. É possível que ela seja uma consequência de outras doenças, como hipertensão, câncer e até diabetes. É possível que ela seja uma doença por si mesma, gerando alterações nas emoções, no sono e no apetite. É possível que, como doença, ela venha de traumas de infância, de lesões no cérebro, de situações de estresse, do uso de determinados medicamentos, podendo ser afetada até pela estação do ano (no caso do inverno, em países muito frios ou com pouca incidência de luz do sol). Desemprego, divórcio, morte dos pais, bullying, abuso sexual, violência doméstica... Tudo isso pode gerar depressão.

Mas é possível que fatores espirituais gerem depressão? 

Qualquer questão mal resolvida e carregada de emoções – normalmente negativas - pode gerar depressão. Depressão não é pecado, mas o pecado pode gerar depressão na medida em que também gera culpa, tristeza, medo, ansiedade e autopunição. 

“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço.” (Romanos 7:14-15). 

Quando somos cristãos e temos consciência de nossa vida espiritual e do estado de nossa intimidade com Deus, ter doenças ligadas ao psicológico gera outros questionamentos. 

Por que Deus permitiria isso? Será que eu abri brechas para o inimigo? Estou pagando por algo que fiz? Como os irmãos vão olhar para mim? Como vou conseguir dar conta do meu cargo na Igreja? Vou conseguir ser um bom líder assim mesmo? 

Tenha em mente que nossa saúde emocional está mais ligada à nossa humanidade do que à nossa espiritualidade. Vejamos o caso de Elias: 

“O profeta Elias foi um homem levantado por Deus em tempo de crise política e apostasia religiosa em Israel. Ele, ousadamente, confrontou os pecados do rei Acabe, chamou a nação indecisa a colocar sua confiança em Deus e triunfou sobre os profetas de Baal. Elias foi um homem que viveu de forma maiúscula e superlativa. Aprendeu a depender de Deus e a realizar grandes obras em nome do Altíssimo. Mas Elias também tinha os pés de barro. Ele era homem semelhante a nós. Ele não era um super-homem nem um super-crente. Depois de retumbantes vitórias, Elias ficou deprimido e pediu para si a morte.” – Hernandes Dias Lopes. 

Dificilmente alguém poderia chamar Elias de uma pessoa fraca. Ao contrário, talvez fosse forte demais. E, na sua força, sentiu-se solitário. 

Precisamos abrir um parêntese nos nossos debates para falar dos nossos pastores. Normalmente, eles têm poucos amigos. Às vezes, nenhum. São cobrados por produtividade constantemente e qualquer falha é passível de duras críticas. Nos EUA, o Instituto Francis Schaeffer de Desenvolvimento de Liderança Eclesiástica fez uma pesquisa com pastores americanos e o resultado foi que 70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, 71% se dizem esgotados, 77% sentem que não têm um bom casamento e 70% dizem não ter um amigo próximo. 

Quais são as expectativas que pessoas assim podem ter? 

Expectativa e esperança, apesar de próximas, são palavras com significados diferentes. Ambas são crenças sobre o futuro, mas a expectativa é sobre o que é mais provável de acontecer, enquanto a esperança é sobre fé. 

Desses pastores, 89% já consideraram deixar o ministério e 57% disseram que realmente deixariam, se tivessem um lugar melhor para ir e um emprego secular. Elias, por se sentir sozinho, pensava que acabaria morrendo e, com ele, a Aliança entre Deus e o povo. 

“E ele disse: Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada, e só eu fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem.” (I Reis 19:10). 

Olhar para as circunstâncias pode ser realmente desanimador. Deus então mostra a Elias – com uma voz doce e suave, sabendo que Elias precisava de cuidados – que ele não era o único, que não estava sozinho, que ainda existiam mais sete mil dos que não adoraram a Baal. 

De forma semelhante, quando nós pecamos e ainda temos um coração sensível para lamentar por isso, ficamos com “uma expectação terrível de juízo” (Hb. 10:27). As expectativas são ruins e nossos olhos só alcançam tristeza. Mas graças a Deus, por Cristo Jesus, em quem nós depositamos nossa esperança! 

Se existe alguém na Bíblia com motivos para ter depressão, esse alguém foi Jeremias. Ele presenciou toda a desolação do povo judeu ao ser levado ao cativeiro, ele viu a cidade de Jerusalém destruída, ele assistiu ao povo faminto e desesperado. Tanto foi o sofrimento, que ficou conhecido como “profeta chorão”. Ainda assim, enquanto se lamentava, dizia: 

“A benignidade do Senhor jamais acaba, as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade. A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele. Bom é o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca. Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor. Invoquei o teu nome, Senhor, desde a profundeza da masmorra. Tu te aproximaste no dia em que te invoquei; disseste: Não temas.” (Lamentações 3:22-26, 55, 57). 

Ao contrário do que fazem alguns religiosos, não podemos impor como alguém deve se sentir – como se isso fosse possível! – nem dizer como nos sentiríamos caso estivéssemos em seu lugar. Cada um luta suas próprias batalhas, cada um sente suas próprias dores. Nossa parte, enquanto cristãos que demonstram amor fraternal, é lembrar que existe esperança além das expectativas. 

“Pois eu bem sei os planos que estou projetando para vós, diz o Senhor; planos de paz, e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança.” (Jeremias 29:11).

Por Josy Pereira Negrin.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Setembro Amarelo

 


    De acordo com o site da campanha (www.setembroamarelo.com), o Setembro Amarelo é realizado desde 2014, como uma parceria entre a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP e o Conselho Federal de Medicina – CFM. O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a campanha acontece durante todo o ano.

    Dentro das igrejas evangélicas e protestantes, esse assunto ainda é muito obscuro e gera inúmeras ideias erradas e até alguns preconceitos. Nós, como igreja, precisamos orientar nossos membros e conscientizá-los acerca deste tema tão sensível e importante.

    A depressão aparece em vários casos bíblicos, como os do profeta Elias (I Reis 19) e de Jó (Jó 3).

    1. Ideias erradas acerca da depressão:

    A. “Depressão é frescura!” - Ao contrário da crença popular, depressão não é frescura de quem quer chamar atenção. Essa crença acaba resultando em preconceito na sociedade, que não vê a gravidade do problema e impede que várias pessoas peçam ajuda, por medo de serem ridicularizadas.

    B. “Depressão é tristeza!” - Muitos cometem o erro de achar que todo deprimido aparenta ser uma pessoa extremamente triste, e isto nem sempre é verdade. Depressão é muito mais grave do que uma tristeza, pois esta última geralmente passa com o tempo, sem a necessidade de auxílio profissional.

    A depressão, por outro lado, precisa de acompanhamento profissional, pois não é um simples sentimento. A tristeza profunda que aparece em casos de depressão não é causada pelo sentimento de tristeza, mas por uma doença psiquiátrica grave, e nem sempre esse sintoma é exteriorizado. Quantas pessoas tiraram a própria vida devido à depressão sem que as pessoas ao redor sequer soubessem o que elas passavam? Os sintomas da depressão não se resumem à tristeza.

    C. “Depressão é falta de fé!” - Esse é o maior erro da igreja evangélica e protestante: enxergar depressão como pecado ou falta de fé. A fé pode curar a depressão, pois “a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tiago 5:16), assim como ela pode curar qualquer doença, mas ainda precisamos buscar ajuda profissional.

    A fé pode curar câncer? Com certeza! Mas nem por isso as pessoas acometidas pelo câncer deixam de procurar o médico e realizar os tratamentos necessários! A depressão precisa ser vista da mesma forma que as demais doenças graves. Podem ser curadas por meio da oração da fé, mas a fé não exclui a necessidade de acompanhamento. Deus também usa os profissionais como instrumentos de cura.

    Está com sintomas de depressão? Ore a Deus, converse com seu pastor, mas não deixe de procurar um psicólogo e/ou psiquiatra.

    2. Entenda a depressão:

    De acordo com o Ministério da Saúde, a depressão é uma doença mental de elevada prevalência e é a mais associada ao suicídio, tende a ser crônica e recorrente, principalmente quando não é tratada, e é causada por fatores genéticos, deficiência de substâncias cerebrais e/ou eventos vitais (ou seja, eventos estressantes podem desencadear episódios depressivos naqueles que tem uma predisposição genética a desenvolver a doença). 

    Entre os muitos sintomas, estão: humor depressivo (sensação de tristeza, autodesvalorização, sentimento de culpa, etc.), retardo motor, falta de energia, falta de concentração, insônia, sonolência, apetite desregulado (podendo ser diminuído ou aumentado), mal estar, dores no peito, taquicardia, etc.

    3. O suicídio: 

    O ponto final para muitas pessoas que enfrentam a depressão é o suicídio. Tirar a própria vida é o “recurso” que muitos usam para acabar com seus sofrimentos.

    A igreja precisa amar essas vidas a ponto de lutar para que elas não se entreguem à morte. É preciso mostrar que existe esperança e solução, que o depressivo tem um Deus que o ama, e incentivá-lo a procurar ajuda médica. Deus o ama tanto que capacitou homens e mulheres para serem psicólogos e psiquiatras. 

    Ao contrário do pensamento teológico comum, o suicídio não é um passaporte para o inferno, pois podem haver fatores atenuantes que tire o suicida da condenação momentos antes de sua morte. Mas não me prenderei às questões teológicas do caso, e sim às questões humanitárias.

    Caso o depressivo tenha tirado sua própria vida, a igreja precisa evitar discursos vazios de condenação e olhar com carinho para a família daquele que se foi, consolando, confortando e orientando.

    Depressão se vence com trabalho em conjunto, então aproveite esse mês de conscientização para estudar e aprender mais sobre essa doença, consulte artigos médicos e sites confiáveis, e faça de sua mensagem um conforto tanto para quem sofre diretamente com isso, como para os familiares e amigos que sofrem indiretamente.

    “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. (João 13:34,35).

Por Diego Rodrigo Souza.