quarta-feira, 8 de julho de 2020

Vitrines

“Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.” (Hebreus 12:1-2).

        Em um mundo cheio de “não importa o que as pessoas pensam” e “toma conta da sua vida”, existe espaço para se falar de testemunho?

       É bem verdade que a mensagem do evangelho, principalmente nestes últimos dias, é um confronto direto às ideologias do mundo, então não devemos esperar aceitação do mundo. A própria Bíblia diz isso, em João 17:14, nas palavras de Jesus: “Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo”. E nas palavras de Paulo: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” (I Co. 1:18).

       Charles Spurgeon, um grande pregador do século XIX, perguntou: “Será que um homem que ama o seu Senhor estaria disposto a ver Jesus vestindo uma coroa de espinhos, enquanto ele mesmo almeja uma coroa de louros? Haveria Jesus de ascender ao trono por meio da cruz, enquanto nós esperamos ser conduzidos para lá nos ombros das multidões, em meio a aplausos? Não seja tão fútil em sua imaginação. Avalie o preço; e, se você não estiver disposto a carregar a cruz de Cristo, volte à sua fazenda ou ao seu negócio e tire deles o máximo que puder, mas permita-me sussurrar em seus ouvidos: Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”.

       A Bíblia diz que devemos ser pacientes com os que estão fracos na fé, “de maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm. 14:12). Nossa salvação, assim como nossa responsabilidade pela nossa vida, é incontestavelmente individual.

      “Alegra-te, jovem, na tua mocidade, e alegre-se o teu coração nos dias da tua mocidade, e anda pelos caminhos do teu coração e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas essas coisas te trará Deus a juízo” (Ec. 11:9).

      Sim, cada um é responsável pela própria vida. No entanto, como vivemos em sociedade, nossas ações e omissões interferem diretamente na vida de quem nos cerca, de forma que precisamos ser conscientemente responsáveis sobre a forma como afetamos e influenciamos outras vidas. Não apenas porque devemos “amar o próximo como a nós mesmos”, mas também porque este é o propósito de Deus.

       Em resposta ao versículo “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm. 8:31), o Rev. Augustus Nicodemos escreveu um livro chamado “E se Deus for contra nós?”. Veja o que a Bíblia diz sobre isso em Naum 3:5-6.

    “Eis que estou contra ti, diz o SENHOR dos Exércitos, e te descobrirei na tua face, e às nações mostrarei a tua nudez e aos reinos, a tua vergonha. E lançarei sobre ti coisas abomináveis, e te envergonharei, e pôr-te-ei como espetáculo.”

     O texto de Naum conta a respeito da destruição de Nínive, uma cidade sanguinária, cheia de mentiras e roubo. Jonas já havia profetizado acerca de sua destruição, mas o povo se arrependeu, de forma que Deus lhes concedeu uma nova chance.  Esse versículo, no entanto, mostra que eles desperdiçaram essa chance, e retrocederam para os seus maus caminhos. Não apenas Deus os destruiu, como também fez deles um exemplo.

       Estamos vivendo uma geração que não acredita que Deus pode envergonhar alguém. Ele pode. É o mesmo Deus.

     “Mas qualquer que escandalizar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha1, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos. Porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mt 18:6-7).

        Se, como cristãos, não fazemos a diferença, o que fazemos?

     “Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens.” (Mt. 5:13)

     Mas, da mesma forma que Deus nos mostra exemplos negativos para que não os sigamos, Ele quer que sejamos bons exemplos para os que nos rodeiam. Jesus iniciou seu ministério com o milagre da transformação da água em vinho, no casamento em Caná da Galileia. Vinho simboliza alegria. Acabar o vinho na festa de casamento seria uma vergonha para os noivos, e representa o fim da alegria de um casal. Quando Jesus provê o vinho, ele restitui a alegria não apenas para os noivos, mas para todos os que estavam na festa.

     “Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.” (Jo. 2:11).

        Quando Deus provê o vinho, é para ser colocado na vitrine. Não para que nos vangloriemos de nossa alegria, mas para que o Deus que nos proporcionou a alegria seja apresentado aos homens.

      Em Hebreus 12:14, somos orientados a viver uma vida de paz com o próximo e de santificação, “sem a qual ninguém verá o Senhor”. Normalmente, interpretamos o texto de forma que “se eu não me santificar, eu não verei a Deus”. Mas não apenas eu não verei o Senhor. Ninguém verá o Senhor! E é por isso que o texto fala primeiro de paz. Se eu tenho paz com as pessoas, elas me observam além de seus preconceitos. Se conseguir quebrar essa resistência, meu testemunho de uma vida santificada mostra o Senhor.

        Quando, em João 4, a mulher samaritana teve sua forma de viver questionada e transformada por Cristo, voltou à sua cidade contando aos homens o que havia acontecido. Os samaritanos, então, foram ao encontro de Jesus e pediram que permanecesse ali com eles, ao passo que Jesus ficou por dois dias. Por fim, disseram à mulher “Já não é pelo que disseste que nós cremos, porque nós mesmos o temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo.” (v. 42). No entanto, se não fosse pelo testemunho da mulher, eles não o teriam ouvido, porque os judeus não se comunicavam com os samaritanos (v. 9).

        Nosso exemplo e testemunho abrem portas inimagináveis.

       Em II Reis 7, a Bíblia nos mostra a história de quatro leprosos que ficavam do lado de fora de uma cidade que estava passando por uma terrível fome. Em certo momento, foram até o arraial dos inimigos e o acharam vazio, pois o Senhor os tinha confundido e feito com que fugissem, deixando tudo para trás. Então os leprosos comeram, beberam, e pegaram para si todo tipo de riqueza, até que pensaram: “Não fazemos bem; este dia é dia de boas-novas, e nos calamos” (v.9).

       Se de fato acreditamos que Jesus Cristo é a melhor coisa que nos aconteceu, se acreditamos que Ele faz toda a diferença em nossa vida, e guardamos esse tesouro para nós mesmos, não fazemos bem. Este dia é dia de boas-novas, e nos calamos.

     O que temos colocado nas nossas prateleiras? Está na hora de transformarmos nossa vida em uma vitrine que mostra a graça de Deus.

    “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus.” (Mt. 5:16).

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1 Mó de azenha: pedra de moinho.

Por Josy Pereira Negrin.

Um comentário:

  1. Glória Deus! Que sejamos a diferença que desejamos ver. Que tudo aquilo que nos incomoda e que vemos de errado sirva para nos incentivarmos a fazer diferente e melhor para a glória de Deus, ao invés de retrocedermos nos afastando daquele que só nos quer o melhor. Deus nos abençoe. Graça e paz a todos!

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