quarta-feira, 24 de junho de 2020

Os dons do Espírito Santo

        Um dos assuntos mais debatidos na história recente da Igreja é a aplicação dos dons espirituais no serviço eclesiástico. Muitos não entendem o que são os dons e pregam doutrinas estranhas, distorcendo a Palavra. 

Os Dons do Espírito Santo são capacidades espirituais que Deus concede com o propósito de edificar a Igreja de Cristo, por meio da instrução dos crentes, e para alcançar novas vidas. Os dons espirituais são também meios pelos quais o Espírito revela o poder e a sabedoria de Deus aos homens que o recebem e bem usam. 

A palavra "dom" vem do grego charisma, que denota algo como "aquilo que é dado graciosamente". Como o batismo no Espírito Santo é um dom, assim também os dons espirituais são dádivas. Não existe uma lista completa dos dons, pois existem inúmeros dons, no entanto, descrevi aqui os mais conhecidos. 

           Dons Vocacionais (Romanos 12: 6, 8):

          1. Ministério: É a disposição, capacidade e poder dados por Deus, para alguém servir às pessoas e prestar assistência prática aos outros membros e líderes da igreja, a fim de ajudá-los a cumprir suas responsabilidades para com Deus (At 6: 2, 3).            

       2. Ensino: É a capacidade espiritual do crente de examinar e estudar a Palavra, e de esclarecer, expor, defender e proclamar as verdades bíblicas, de tal maneira que outras pessoas cresçam em graça e no conhecimento de Deus.

          3. Exortação: É a capacidade dada por Deus de o crente proclamar a Palavra de forma que ela atinja o coração, a consciência e a vontade dos ouvintes, estimulando a fé e produzindo uma separação de todo o pecado. Trata-se, portanto, de aconselhar, animar e encorajar. 

4. Contribuição: Dividir, distribuir, repartir. É a capacidade e o poder dados por Deus para aqueles que têm recursos além das suas necessidades básicas da vida, para que contribuam livremente com seus bens pessoais, suprindo a necessidade da obra ou do povo de Deus. 

5. Liderança: Aquele que dirige e/ou preside. Capacidade dada por Deus para o obreiro pastorear, conduzir e administrar as várias atividades da igreja, visando o bem espiritual de todos. 

6. Misericórdia: Sentimento doloroso causado pela miséria de outro. É ajudar, consolar e se compadecer das aflições e necessidades de outras pessoas. 

7. Celibato (I Co 7: 7, 9): É a continência, abstinência sexual; são as pessoas que são realizadas e felizes mesmo sem ter relação conjugal. Algumas profissões exigem mesmo que o indivíduo seja solteiro, livre das responsabilidades que o casamento e a família impõem, por isso Deus dá o dom do celibato. Para ilustrar essa ideia, o que será que aconteceria se o apóstolo Paulo fosse casado ou tivesse preocupações com sua esposa? Se esse fosse o caso de Paulo, isso iria limitar de alguma forma a sua liberdade de viajar pelo mundo pregando o Evangelho. O próprio Paulo diz que "o solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar o Senhor; mas o casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar a mulher..." I Co 7: 32, 34. 

Dons Ministeriais (Efésios 4: 11): 

8. Apóstolos: Este dom era dado por Deus para alguns daqueles que tinham andado com Jesus antes de Sua morte, como os 12 apóstolos primitivos, ou O tinham visto após a ressurreição, como no caso de Paulo. Além desses já citados, alguns outros também foram considerados apóstolos, como: Matias, que substituiu Judas Iscariotes, Barnabé e Silvano, entre outros. O próprio Deus deu-lhes o selo do apostolado, pois foi Ele mesmo quem os escolheu, permitindo que no ministério deles aparecessem os "sinais do apostolado" (II Co 12: 12). O dom do apostolado não é mais dado por Deus aos homens, ainda que se levantem pessoas que se autoproclamem apóstolos. 

9. Profetas: Segundo o livro de Atos (13: 1 e 15: 32), os profetas constituíam o ministério da Palavra de Deus, impulsionado por inspiração profética. Por meio dessa inspiração, esse ministério é acompanhado de edificação, exortação e consolação, que são evidências da operação do verdadeiro espírito da profecia (I Co 14: 3). Observamos, assim, que o simples uso do dom de profecia não faz de ninguém um profeta, pois profeta é um ministro da Palavra (At 21: 9, 10). 

10. Evangelistas: Mensageiro de Boas Novas. O evangelista desempenha a obra de um missionário, levando o Evangelho a lugares onde ainda é desconhecido. A função do evangelista em primeiro lugar não é a de apascentar. Porém, quando abre trabalhos, ele os dirige e apascenta até entregá-los a um pastor, embora seja possível que uma mesma pessoa possua mais de um dom ministerial. 

11. Pastores:  Homens que apascentam e dirigem o rebanho. Servem sob a direção do Bom Pastor, a quem pertence a Igreja (I Pd 5: 2, 4). Os pastores são sempre mostrados como figuras masculinas na Bíblia, ou seja, não existem pastoras no Novo Testamento, embora hoje exceções sejam vistas, até pela necessidade da igreja. O papel de líder principal das congregações locais cabe ao homem, enquanto as pastoras devem auxiliá-lo nesse papel. 

12. Doutores: Os doutores ou mestres são os ensinadores (I Co 12: 28). No tempo dos apóstolos, esse ministério era apoiado pelos dons da palavra de sabedoria e ciência. 

           Dons Espirituais (I Coríntios 12: 8 - 10): 

13. Palavra de Sabedoria: Pela operação do Espírito Santo, esse dom proporciona o entendimento da profundidade da sabedoria de Deus, a fim de que seja aplicada - quer no trabalho, quer em decisões no serviço do Senhor - e exposta a outros, de modo a ser bem entendida. 

14. Palavra de Conhecimento: Esse dom consiste em penetrar nas profundezas da ciência de Deus, pelo qual podemos saber e, assim, compreender aquilo que, pelo entendimento humano, jamais poderíamos alcançar. Enquanto do dom da palavra de conhecimento penetra nas profundezas da ciência de Deus, o dom da palavra de sabedoria nos faz aptos a expô-la com palavras que o Espírito Santo ensina. 

15. Discernimento de Espíritos: O portador desse dom recebe, pelo Espírito Santo, como num laudo, o resultado de uma análise vinda de Deus sobre a qualidade exata do espírito que inspira e opera em determinadas pessoas. Esse dom revela a fonte de onde vem a inspiração das profecias e revelações, pois elas podem vir de inspiração divina, podem representar o pensamento do coração daquele que as apresenta, ou podem ser de origem demoníaca. Esse dom é uma proteção divina, pela qual a Igreja fica guardada das más influências. 

           Dons de Poder: 

16. Curar: A cura do corpo doente pela fé é um fruto da morte de Cristo na cruz, mas o dom de curar é diferente. O dom de curar consiste em uma operação do Espírito Santo direta e imediata. Esse dom não significa uma capacidade de curar quando e como a pessoa quer, porém é sempre uma transmissão de poder do Espírito Santo. 

17. Operação de Maravilhas: Esse dom constitui uma operação do Espírito Santo pela qual é transmitido poder ilimitado de Deus. Esse dom se manifestou por toda a Bíblia e ainda hoje, embora devamos ter cuidado com os atuais charlatões. 

18. Fé: Esse dom não se refere a fé salvífica, mas consiste em um impulso à fé implantada por Deus em nós. Esse dom em ação gera uma atmosfera de fé, que nos dá convicção real de que agora tudo é possível (Jo 11: 40, 44; Mc 9: 23). 

           Dons de Inspiração (Elocução) (I Coríntios 14): 

19. Variedade de Línguas e 20. Interpretação de Línguas: O dom de línguas é a capacidade, dada por Deus, de falar em outra língua (idioma, dialeto) que seja desconhecida por aquele que fala, sendo interpretada apenas por quem possui o dom de interpretação. Vale ressaltar que em nenhuma ocorrência desse dom na Bíblia, ocorre a manifestação de supostas línguas angelicais, e sempre que anjos são relatados, aparecem falando no idioma de quem o ouve.

O dom de línguas no contexto em que ele aparece está intimamente vinculado ao dever de proclamação. O profetizar em I Coríntios 14:3 é nada mais do que dizer, ou revelar, o que as línguas desconhecidas queriam dizer sobre as verdades espirituais. O falar mistérios (I Co 14:2) é falar o que não é conhecido. Não são as línguas um mistério, mas o que Deus quer dizer por meio delas. Note que o apóstolo Paulo diz "fala mistérios" e não "fala em mistério".

         A primeira aparição desse dom, no Dia de Pentecostes, em Atos 2:1-12, diz que, segundo os próprios ouvintes, cada um falava na sua própria língua (idioma) de origem (vs. 8-11). Os medos, partos, cireneus e assim por diante estavam atônitos por um simples fato: “Não são galileus todos os que estão falando?” (v.7). Ou seja, os galileus falam no máximo aramaico (ainda que houvesse certa influência do grego no meio deles), e na ocasião, por distribuição do Espírito Santo, os galileus falavam em línguas que eles mesmos não conheciam. Eles falavam na língua dos outros povos. Esse dom ainda ocorre, mas não é prova inefável de batismo no Espírito Santo, como pregam alguns, e nem é a glossolalia, fenômeno que se tornou popular nas igrejas pentecostais do século XX e consiste em repetições de sílabas sem sentido, inventando idiomas estranhos. 

21. Profecia: Profecia é uma mensagem de Deus dada ao portador do dom por inspiração do Espírito Santo, e serve para admoestar ou exortar a Igreja de Cristo.

         A pessoa deve transmiti-la exatamente como a recebeu. A mensagem recebida não é transmitida de maneira mecânica, mas fiel e consciente, pois "os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas" (I Co 14: 32). No momento em que a profecia é transmitida, não é Deus quem está falando, mas é o homem que está reproduzindo o que recebeu de Deus. Se fosse o próprio Deus falando, não haveria necessidade de se julgar a profecia, como está ordenado que se faça (I Ts 5: 21 / I Co 14: 29). A profecia não deve ser fonte de consulta ou meio de obter direção, seja na vida espiritual, sentimental ou  material. O cristão genuíno não corre atrás de profecias, mas está sempre alerta para ouvir a voz de Deus.  

        Esses são os dons mais conhecidos listados na Bíblia, e tudo o que vemos nas igrejas precisa estar de acordo com as Escrituras. Dons que não são aprovados pelo filtro da Bíblia, não procedem de Deus.

Por Diego Rodrigo Souza.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Seja filho de Deus e aja como filho.



SER FILHO. 

Deus criou tudo e todas as coisas, como pode alguém não ser filho de Deus? 

·        Gênesis 2:3.

“E abençoou Deus o sétimo dia e o santificou; porque nele descansou de toda obra que, como Criador fizera”.

·        João 1:11-12.

“Veio para o que era seu e os seus não O receberam, mas a todos quantos O receberem, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu Nome”.

A criação de tudo e todas as coisas dependeu única e exclusivamente da vontade de Deus, mas ser filho de Deus - mediante o sacrifício de Cristo, completo e suficiente - depende única e exclusivamente de cada ser humano, pois Deus nos dá o livre arbítrio. Cabe a nós decidirmos ser filhos de Deus, o que só acontecerá quando recebermos Jesus em nossas vidas. 

Como acontece?

 ·        João 14:6-7.

“Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai se não por mim. Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também ao meu Pai”.

 ·        Salmos 16:11.

“Tu me farás ver os caminhos da vida; na Tua presença há plenitude de alegria, na Tua destra há delícias perpetuamente”.

 Jesus trará a verdade em si e isso gerará um confronto interno em cada pessoa sobre suas atitudes e posicionamentos. Em Mateus 10:34, Jesus diz que trará a espada e espada é um símbolo de confronto, que só é gerado a partir de percepções diferentes (a verdade de Jesus e quem nós éramos antes de conhece-lo). Partindo disso, cabe a nós escolhermos qual caminho seguir, (o de Deus, e obter salvação e vida eterna, ou o do mundo, e viver o tormento eterno - Mateus 25:46).

 AGIR COMO FILHO.

 ·        Gálatas 5:17, 24.

“Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.

E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com suas paixões e concupiscências”.

 Cada escolha possui sua consequência, a partir do momento em que escolhemos ser filhos de Deus é necessário que renunciemos nossas próprias vontades que vão contra os desígnios de Deus e tenhamos em mente que agora carregamos a responsabilidade de pregar o evangelho e vivê-lo.

 Em Mateus 5:13-14, diz que somos sal da terra e luz do mundo.  O sal é uma substância essencial para dar sabor a uma comida, ou seja, ele lhe dá vida. E dentro de nós temos aquilo que dá vida, que é Jesus, assim também é Ele a luz.

 NÃO BASTA SER FILHO É PRECISO AGIR COMO FILHO.

 ·        Efésios 5:1-2.

“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave”.

·        Colossenses 2:6-7.

“Ora como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nEle, nEle radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graça”.

Um fruto diz a qual árvore pertence, por exemplo, se você encontra um coco em uma feira em São Paulo ou no Rio de Janeiro, ou em qualquer lugar na terra, você sabe que ele veio de um coqueiro, porque ele tem características marcantes e expressas de onde veio e a qual lugar pertence, e com os filhos de Deus não é diferente.

Nós precisamos refletir o nosso Deus, em nossas ações, atitudes e posicionamentos. Por isso não basta só ser filho, é necessário ser e agir como filho de Deus, pois os nossos frutos revelam a quem pertencemos, e assim também damos bom testemunho do nosso Pai.  


Por Isabelle Alves.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

O Deus que perdoa pecadores

 Jesus: O Deus que perdoa pecadores.

 Jesus não afastava os pecadores com o seu jeito de tratá-los. Pelo contrário, eles se sentiam acolhidos pelo seu olhar. Lembro-me de Zaqueu o recebendo em seu lar (Lucas 19:5), da mulher chorando aos seus pés durante o jantar na casa de Simão (Lucas 7:37-38), da adúltera o olhando sem entender tamanha graça (João 8:1-11) e, claro, da famosa história do jovem que, depois de se perder na lama da ilusão, é abraçado por um Pai cheio de amor (Lucas 15:11-32). 

Isso significa que o filho de Deus não tinha uma expressão fechada, uma voz fantasmagórica, uma atitude agressiva, uma prancheta cheia de anotações assustadoras, ou um discurso excludente. Pelo contrário, os corações mais sombrios se sentiam atraídos pela luz da sua bondade. Afinal, Ele disse que veio para os doentes e ofereceu graça a cada um deles. 

Os descartados, os marginalizados, os brutalizados, os ignorados e os desprezados encontravam esperança nas palavras de alguém que anunciava um tempo no qual pecados são perdoados, injustiças são desfeitas, culpas são absolvidas, dívidas são pagas, medos são vencidos, fracassos são ressignificados; oferecendo uma nova chance de seguir em frente e experimentar uma nova vida, sem o fardo do pecado. 

Precisamos jogar fora as pedras que temos nas mãos, os julgamentos, o nariz torto, o olhar de lado, o dedo apontado; precisamos aprender mais com Jesus, sermos seguidores de verdade, não cheios de hipocrisia, com discurso de amor nos lábios, mas nas mãos, rejeição. 

O preço que Cristo pagou foi alto demais, doloroso, humilhante, e muitos, de alguma forma, têm jogado por terra esse sacrifício; quando deveriam cuidar, abraçar, amparar, afastam ainda mais, com o discurso de não se contaminar.

 Desconheço o "Cristo" cruel, desumano, que rejeita, que muitos pregam por aí. Ele não é um Deus que abraça o pecado, mas é um Deus que abraça o pecador. O Cristo que eu conheço passou por becos sem saídas para abrir o caminho da eternidade. 

Quem crê no que Ele fez, quem entrega-se ao que Ele é, receberá o que Ele conquistou: VIDA ABUNDANTE! 

Por Lucília Castro.

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quarta-feira, 3 de junho de 2020

Todas as vidas importam


“Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje, e atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado, porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?

Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam? Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais? Porventura não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado? Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores”. (Tiago 2:1-9) 

Um dos grandes males da humanidade é a discriminação na sociedade. E isso não é algo recente, até na Bíblia vemos inúmeros casos, como a questão de ricos e pobres, livres e escravos, e a histórica divisão entre judeus e samaritanos. 

Na palavra dessa semana, venho falar sobre o papel dos cristãos nas questões de discriminação, e o assunto soa ainda mais atual, pois recentemente vimos o trágico episódio envolvendo policiais americanos e um cidadão chamado George Floyd, que foi morto asfixiado de forma covarde. Onde a Igreja entra em questões desse tipo? 

Em primeiro lugar, por mais estranho que possa soar, é importante dizer que a Igreja não é, primariamente, uma organização social e sim um organismo espiritual, e sua mensagem principal deve ser a pregação do Evangelho. O Evangelho fala sobre um Reino Celestial, e as preocupações com o que acontece em nossa sociedade são puramente terrenas, por isso a Igreja não pode colocar questões sociais e políticas acima do Evangelho. A Igreja é o Corpo de Cristo, representante do Reino de Deus na terra, e não uma Organização Social ou Organização Não-Governamental. Por essa razão, a Igreja não foi chamada para defender políticos ou ideologias, sejam elas quais forem. 

Mas, considerando que a Igreja esteja cumprindo seu papel principal como a representante do Reino de Deus aqui na terra, e considerando que, embora um organismo espiritual, ela é - secundariamente - uma organização jurídica composta de pessoas que vivem em sociedade, seus líderes e membros precisam se posicionar em questões sociais. E quando digo “se posicionar em questões sociais”, não me refiro à preocupante entrada das denominações evangélicas na política. É possível que o cristão se posicione politicamente, mas sem politizar a Igreja. Basta cumprirmos o mandamento de Cristo sobre “amar ao próximo como a nós mesmos” (Mateus 22:39).

Quando entendemos a Palavra de Deus sem filtros ideológicos, começamos a ver que Deus ama a todos independente de suas características físicas ou comportamentais. Um crente não é melhor do que um espírita, um branco não é melhor do que um negro, um homem não é melhor do que uma mulher. Todos são igualmente pecadores, porém amados por Deus. 

“Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Romanos 3:21-24).

É dever de todo cristão se posicionar em casos de discriminação, como o sofrido por George Floyd, mas não para levantar bandeiras partidárias ou com manifestações vazias, e sim para lembrar ao mundo que, perante Deus, somos todos igualmente carentes de Sua graça. 

Se algum crente olha a cena de um homem negro sendo asfixiado por um policial branco e não sente o sofrimento daquele homem, então esse crente não entendeu o Evangelho, nem conseguiu experimentar o amor de Deus. A questão não é somente a cor da pele, mas um ser humano matando outro, sem nenhuma razão. Isso, por si só, já deveria chocar a Igreja e causar profundo sofrimento. A cor negra da pele de George Floyd é o agravante desse sofrimento. Não somente um ser humano morreu covardemente, como morreu simplesmente por ser negro em um país que consegue a façanha de ser tão ou mais racista que o Brasil. 

Não, esse texto não quer dizer que os negros são mais importantes, como os críticos têm interpretado erroneamente a campanha “vidas negras importam”. Mas quer lembrar aos cristãos que todas as vidas importam, INCLUSIVE as vidas negras. Se nós fecharmos os olhos para os negros que morrem apenas por sua cor, já não teremos a empatia de sentir a dor de qualquer outra pessoa. Se não choramos pelos negros, historicamente mais explorados, não choraremos pelos brancos, vermelhos e amarelos. 

A mensagem de hoje é essa: Todas as vidas importam para Deus, inclusive as negras. E termino citando dois trechos do belíssimo discurso do pastor americano Martin Luther King Jr.: 

"Tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Tenho um sonho hoje.

Tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, todas as colinas e montanhas serão niveladas, os lugares acidentados se tornarão planos e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e todos os seres a verão, juntamente".  

Por Diego Rodrigo Souza.