Um dos assuntos mais debatidos na história recente da Igreja é a aplicação dos dons espirituais no serviço eclesiástico. Muitos não entendem o que são os dons e pregam doutrinas estranhas, distorcendo a Palavra.
Os Dons do Espírito Santo são capacidades espirituais que Deus concede com o propósito de edificar a Igreja de Cristo, por meio da instrução dos crentes, e para alcançar novas vidas. Os dons espirituais são também meios pelos quais o Espírito revela o poder e a sabedoria de Deus aos homens que o recebem e bem usam.
A palavra "dom" vem do grego charisma, que denota algo como "aquilo que é dado graciosamente". Como o batismo no Espírito Santo é um dom, assim também os dons espirituais são dádivas. Não existe uma lista completa dos dons, pois existem inúmeros dons, no entanto, descrevi aqui os mais conhecidos.
Dons Vocacionais (Romanos 12: 6, 8):
2. Ensino: É a capacidade espiritual do crente de examinar e estudar a Palavra, e de esclarecer, expor, defender e proclamar as verdades bíblicas, de tal maneira que outras pessoas cresçam em graça e no conhecimento de Deus.
4. Contribuição: Dividir, distribuir, repartir. É a capacidade e o poder dados por Deus para aqueles que têm recursos além das suas necessidades básicas da vida, para que contribuam livremente com seus bens pessoais, suprindo a necessidade da obra ou do povo de Deus.
5. Liderança: Aquele que dirige e/ou preside. Capacidade dada por Deus para o obreiro pastorear, conduzir e administrar as várias atividades da igreja, visando o bem espiritual de todos.
6. Misericórdia: Sentimento doloroso causado pela miséria de outro. É ajudar, consolar e se compadecer das aflições e necessidades de outras pessoas.
7. Celibato (I Co 7: 7, 9): É a continência, abstinência sexual; são as pessoas que são realizadas e felizes mesmo sem ter relação conjugal. Algumas profissões exigem mesmo que o indivíduo seja solteiro, livre das responsabilidades que o casamento e a família impõem, por isso Deus dá o dom do celibato. Para ilustrar essa ideia, o que será que aconteceria se o apóstolo Paulo fosse casado ou tivesse preocupações com sua esposa? Se esse fosse o caso de Paulo, isso iria limitar de alguma forma a sua liberdade de viajar pelo mundo pregando o Evangelho. O próprio Paulo diz que "o solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar o Senhor; mas o casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar a mulher..." I Co 7: 32, 34.
Dons Ministeriais (Efésios 4: 11):
8. Apóstolos: Este dom era dado por Deus para alguns daqueles que tinham andado com Jesus antes de Sua morte, como os 12 apóstolos primitivos, ou O tinham visto após a ressurreição, como no caso de Paulo. Além desses já citados, alguns outros também foram considerados apóstolos, como: Matias, que substituiu Judas Iscariotes, Barnabé e Silvano, entre outros. O próprio Deus deu-lhes o selo do apostolado, pois foi Ele mesmo quem os escolheu, permitindo que no ministério deles aparecessem os "sinais do apostolado" (II Co 12: 12). O dom do apostolado não é mais dado por Deus aos homens, ainda que se levantem pessoas que se autoproclamem apóstolos.
9. Profetas: Segundo o livro de Atos (13: 1 e 15: 32), os profetas constituíam o ministério da Palavra de Deus, impulsionado por inspiração profética. Por meio dessa inspiração, esse ministério é acompanhado de edificação, exortação e consolação, que são evidências da operação do verdadeiro espírito da profecia (I Co 14: 3). Observamos, assim, que o simples uso do dom de profecia não faz de ninguém um profeta, pois profeta é um ministro da Palavra (At 21: 9, 10).
10. Evangelistas: Mensageiro de Boas Novas. O evangelista desempenha a obra de um missionário, levando o Evangelho a lugares onde ainda é desconhecido. A função do evangelista em primeiro lugar não é a de apascentar. Porém, quando abre trabalhos, ele os dirige e apascenta até entregá-los a um pastor, embora seja possível que uma mesma pessoa possua mais de um dom ministerial.
11. Pastores: Homens que apascentam e dirigem o rebanho. Servem sob a direção do Bom Pastor, a quem pertence a Igreja (I Pd 5: 2, 4). Os pastores são sempre mostrados como figuras masculinas na Bíblia, ou seja, não existem pastoras no Novo Testamento, embora hoje exceções sejam vistas, até pela necessidade da igreja. O papel de líder principal das congregações locais cabe ao homem, enquanto as pastoras devem auxiliá-lo nesse papel.
12. Doutores: Os doutores ou mestres são os ensinadores (I Co 12: 28). No tempo dos apóstolos, esse ministério era apoiado pelos dons da palavra de sabedoria e ciência.
Dons Espirituais (I Coríntios 12: 8 - 10):
13. Palavra de Sabedoria: Pela operação do Espírito Santo, esse dom proporciona o entendimento da profundidade da sabedoria de Deus, a fim de que seja aplicada - quer no trabalho, quer em decisões no serviço do Senhor - e exposta a outros, de modo a ser bem entendida.
14. Palavra de Conhecimento: Esse dom consiste em penetrar nas profundezas da ciência de Deus, pelo qual podemos saber e, assim, compreender aquilo que, pelo entendimento humano, jamais poderíamos alcançar. Enquanto do dom da palavra de conhecimento penetra nas profundezas da ciência de Deus, o dom da palavra de sabedoria nos faz aptos a expô-la com palavras que o Espírito Santo ensina.
15. Discernimento de Espíritos: O portador desse dom recebe, pelo Espírito Santo, como num laudo, o resultado de uma análise vinda de Deus sobre a qualidade exata do espírito que inspira e opera em determinadas pessoas. Esse dom revela a fonte de onde vem a inspiração das profecias e revelações, pois elas podem vir de inspiração divina, podem representar o pensamento do coração daquele que as apresenta, ou podem ser de origem demoníaca. Esse dom é uma proteção divina, pela qual a Igreja fica guardada das más influências.
Dons de Poder:
16. Curar: A cura do corpo doente pela fé é um fruto da morte de Cristo na cruz, mas o dom de curar é diferente. O dom de curar consiste em uma operação do Espírito Santo direta e imediata. Esse dom não significa uma capacidade de curar quando e como a pessoa quer, porém é sempre uma transmissão de poder do Espírito Santo.
17. Operação de Maravilhas: Esse dom constitui uma operação do Espírito Santo pela qual é transmitido poder ilimitado de Deus. Esse dom se manifestou por toda a Bíblia e ainda hoje, embora devamos ter cuidado com os atuais charlatões.
18. Fé: Esse dom não se refere a fé salvífica, mas consiste em um impulso à fé implantada por Deus em nós. Esse dom em ação gera uma atmosfera de fé, que nos dá convicção real de que agora tudo é possível (Jo 11: 40, 44; Mc 9: 23).
Dons de Inspiração (Elocução) (I Coríntios 14):
19. Variedade de Línguas e 20. Interpretação de Línguas: O dom de línguas é a capacidade, dada por Deus, de falar em outra língua (idioma, dialeto) que seja desconhecida por aquele que fala, sendo interpretada apenas por quem possui o dom de interpretação. Vale ressaltar que em nenhuma ocorrência desse dom na Bíblia, ocorre a manifestação de supostas línguas angelicais, e sempre que anjos são relatados, aparecem falando no idioma de quem o ouve.
O dom de línguas no contexto em que ele aparece está intimamente vinculado ao dever de proclamação. O profetizar em I Coríntios 14:3 é nada mais do que dizer, ou revelar, o que as línguas desconhecidas queriam dizer sobre as verdades espirituais. O falar mistérios (I Co 14:2) é falar o que não é conhecido. Não são as línguas um mistério, mas o que Deus quer dizer por meio delas. Note que o apóstolo Paulo diz "fala mistérios" e não "fala em mistério".
A primeira
aparição desse dom, no Dia de Pentecostes, em Atos 2:1-12, diz que, segundo os
próprios ouvintes, cada um falava na sua própria língua (idioma) de origem (vs.
8-11). Os medos, partos, cireneus e assim por diante estavam atônitos por um
simples fato: “Não são galileus todos os que estão falando?”
(v.7). Ou seja, os galileus falam no máximo aramaico (ainda que
houvesse certa influência do grego no meio deles), e na ocasião, por distribuição
do Espírito Santo, os galileus falavam em línguas que eles mesmos não
conheciam. Eles falavam na língua dos outros povos. Esse dom ainda
ocorre, mas não é prova inefável de batismo no Espírito Santo, como pregam
alguns, e nem é a glossolalia, fenômeno que se tornou popular nas igrejas
pentecostais do século XX e consiste em repetições de sílabas sem sentido,
inventando idiomas estranhos.
21. Profecia: Profecia é uma
mensagem de Deus dada ao portador do dom por inspiração do Espírito Santo, e
serve para admoestar ou exortar a Igreja de Cristo.
A pessoa deve transmiti-la exatamente como a recebeu. A mensagem recebida não é transmitida de maneira mecânica, mas fiel e consciente, pois "os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas" (I Co 14: 32). No momento em que a profecia é transmitida, não é Deus quem está falando, mas é o homem que está reproduzindo o que recebeu de Deus. Se fosse o próprio Deus falando, não haveria necessidade de se julgar a profecia, como está ordenado que se faça (I Ts 5: 21 / I Co 14: 29). A profecia não deve ser fonte de consulta ou meio de obter direção, seja na vida espiritual, sentimental ou material. O cristão genuíno não corre atrás de profecias, mas está sempre alerta para ouvir a voz de Deus.
Esses são os dons mais conhecidos listados na Bíblia, e tudo o que vemos nas igrejas precisa estar de acordo com as Escrituras. Dons que não são aprovados pelo filtro da Bíblia, não procedem de Deus.
Por Diego Rodrigo Souza.
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