quarta-feira, 3 de junho de 2020

Todas as vidas importam


“Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje, e atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado, porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?

Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam? Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais? Porventura não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado? Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores”. (Tiago 2:1-9) 

Um dos grandes males da humanidade é a discriminação na sociedade. E isso não é algo recente, até na Bíblia vemos inúmeros casos, como a questão de ricos e pobres, livres e escravos, e a histórica divisão entre judeus e samaritanos. 

Na palavra dessa semana, venho falar sobre o papel dos cristãos nas questões de discriminação, e o assunto soa ainda mais atual, pois recentemente vimos o trágico episódio envolvendo policiais americanos e um cidadão chamado George Floyd, que foi morto asfixiado de forma covarde. Onde a Igreja entra em questões desse tipo? 

Em primeiro lugar, por mais estranho que possa soar, é importante dizer que a Igreja não é, primariamente, uma organização social e sim um organismo espiritual, e sua mensagem principal deve ser a pregação do Evangelho. O Evangelho fala sobre um Reino Celestial, e as preocupações com o que acontece em nossa sociedade são puramente terrenas, por isso a Igreja não pode colocar questões sociais e políticas acima do Evangelho. A Igreja é o Corpo de Cristo, representante do Reino de Deus na terra, e não uma Organização Social ou Organização Não-Governamental. Por essa razão, a Igreja não foi chamada para defender políticos ou ideologias, sejam elas quais forem. 

Mas, considerando que a Igreja esteja cumprindo seu papel principal como a representante do Reino de Deus aqui na terra, e considerando que, embora um organismo espiritual, ela é - secundariamente - uma organização jurídica composta de pessoas que vivem em sociedade, seus líderes e membros precisam se posicionar em questões sociais. E quando digo “se posicionar em questões sociais”, não me refiro à preocupante entrada das denominações evangélicas na política. É possível que o cristão se posicione politicamente, mas sem politizar a Igreja. Basta cumprirmos o mandamento de Cristo sobre “amar ao próximo como a nós mesmos” (Mateus 22:39).

Quando entendemos a Palavra de Deus sem filtros ideológicos, começamos a ver que Deus ama a todos independente de suas características físicas ou comportamentais. Um crente não é melhor do que um espírita, um branco não é melhor do que um negro, um homem não é melhor do que uma mulher. Todos são igualmente pecadores, porém amados por Deus. 

“Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Romanos 3:21-24).

É dever de todo cristão se posicionar em casos de discriminação, como o sofrido por George Floyd, mas não para levantar bandeiras partidárias ou com manifestações vazias, e sim para lembrar ao mundo que, perante Deus, somos todos igualmente carentes de Sua graça. 

Se algum crente olha a cena de um homem negro sendo asfixiado por um policial branco e não sente o sofrimento daquele homem, então esse crente não entendeu o Evangelho, nem conseguiu experimentar o amor de Deus. A questão não é somente a cor da pele, mas um ser humano matando outro, sem nenhuma razão. Isso, por si só, já deveria chocar a Igreja e causar profundo sofrimento. A cor negra da pele de George Floyd é o agravante desse sofrimento. Não somente um ser humano morreu covardemente, como morreu simplesmente por ser negro em um país que consegue a façanha de ser tão ou mais racista que o Brasil. 

Não, esse texto não quer dizer que os negros são mais importantes, como os críticos têm interpretado erroneamente a campanha “vidas negras importam”. Mas quer lembrar aos cristãos que todas as vidas importam, INCLUSIVE as vidas negras. Se nós fecharmos os olhos para os negros que morrem apenas por sua cor, já não teremos a empatia de sentir a dor de qualquer outra pessoa. Se não choramos pelos negros, historicamente mais explorados, não choraremos pelos brancos, vermelhos e amarelos. 

A mensagem de hoje é essa: Todas as vidas importam para Deus, inclusive as negras. E termino citando dois trechos do belíssimo discurso do pastor americano Martin Luther King Jr.: 

"Tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Tenho um sonho hoje.

Tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, todas as colinas e montanhas serão niveladas, os lugares acidentados se tornarão planos e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e todos os seres a verão, juntamente".  

Por Diego Rodrigo Souza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário